Mass Effect: Andromeda

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Lançado em 2012,Mass Effect 3 causou grande polêmica entre quem acompanhava a saga de Shepard. O elemento que mais gerou discordância foi o final da aventura, considerado inadequado por boa parte dos públicos — mas que, na época,não chegou a me incomodar muitovisto as demais qualidades apresentadas pelo título.

5 anos depois, Mass Effect: Andromeda chega com o objetivo de apresentar um “novo começo” para a franquia. Deixando de lado os reapers e a Via Láctea como um todo, o game acompanha a história de um grupo de exploradores que parte para uma galáxia distante em busca de novas oportunidades e descobertas.

No entanto, o distanciamento do cenário anterior e a história que acontece mais de 600 anos depois não impedem que o novo capítulo tenha muitas semelhanças com seus antecessores. Mudando estruturas e realizando uma série de ajustes em quesitos como combate e narrativa, o título traz em si vários “tropeços” que impedem que ele atinja todo seu potencial.

Busca por novos horizontes

A história de Mass Effect: Andromeda começa em um ponto não muito claro localizado entre os eventos do primeiro e do segundo jogos da série. Cientistas, empresários e pesquisadores decidem que a Via Láctea não tinha muito mais a oferecer em matéria de novidades e decidem embarcar em uma jornada bastante arriscada rumo ao desconhecido.

O plano envolvia a construção de uma gigantesca estação espacial conhecida como Nexus (quase uma imitação da Cidadela) e de quatro arcas — cada uma levando uma raça específica. No entanto, a viagem que durou mais de 600 anos não foi tão tranquila quanto o previsto: chegando ao destino, algumas naves do comboio somem e os exploradores se deparam com uma raça guerreira conhecida como kett que parece se divertir matando e sequestrando colonos.

A decisão por encaixar Andromeda entre o primeiro e o segundo jogo permitiu à BioWare se livrar da obrigação de falar sobre Shepard ou sobre os reapers. Como no ponto de partida das naves muita pouca gente sabia sobre a ameaça iminente, é bastante aceitável que ninguém expresse preocupação com ela — o que não impede que referências discretas a personagens e aventuras anteriores não surjam em alguns momentos.

Após uma tragédia inicial um pouco previsível (e com impacto sentimental reduzido), você assume o papel do Explorador humano, figura que tem o objetivo de encontrar uma nova casa para os moradores do Nexus. Tudo isso enquanto lida com os confrontos pessoais de uma equipe com características variadas, descobre segredos antigos e mata muitos alienígenas.

Mass Effect: Andromeda muitas vezes lembra uma espécie de mistura entre Mass Effect 1 e 2

Caso alguns desses elementos pareçam familiares, é porque Mass Effect: Andromeda muitas vezes lembra uma espécie de mistura entre Mass Effect 1 e 2. O que impede isso de se tornar algo ruim ou repetitivo é a competência dos escritos da BioWare, que conseguem dar visões diferentes de situações e personagens que parecem familiares.

O Explorador (ou Exploradora) tem uma personalidade bastante distinta de Shepard. Se o antigo comandante fazia algumas piadas, mas mantinha um tom profissional, o novo protagonista é muito mais brincalhão e sarcástico em suas ações — muitas vezes parecendo imaturo em suas decisões.

Outra mudança bem-vinda é a total eliminação do velho sistema de Paragon e Renegade. Agora, suas respostas possuem nuances muito maiores e não há necessariamente um caminho “bom” ou “ruim” a seguir, o que permite moldar mais livremente seu protagonista e dar a ele uma personalidade muito mais rica.

Também ajuda o fato de que seus companheiros têm personalidades mais variadas do que no passado e conseguem fugir de alguns clichês típicos ao mundo da ficção científica. Em compensação, Andromeda tem um começo muito lento marcado por uma carga pesada de diálogos expositivos — em outras palavras, vai ser preciso investir algumas horas de jogatina antes que “a coisa engate”.

Combate aprimorado

Apesar de a história de Andromeda demorar um pouco para ficar boa, o combate já começa com ritmo bastante acelerado. A adoção por mapas mais abertos fez com que a BioWare mudasse o sistema de cobertura, que agora é acionado automaticamente nos momentos adequados — algo que, junto à possibilidade de pular, mudou bastante a dinâmica dos confrontos.

A empresa também eliminou completamente as restrições de classe vistas anteriormente, o que se prova bastante positivo. Como Explorador, você pode investir em qualquer tipo de poder e habilidade (com pouquíssimas restrições), destravando ao pouco diferentes perfis que garantem bônus permanentes a seu personagem — e que podem ser mudados durante as batalhas.

Isso significa a possibilidade de poder experimentar muito mais do que no passado sem o medo de investir horas em uma figura com a qual não é gostoso jogador. Muito disso se deve ao fato de que, se você cometer um erro (ou só cansar de uma combinação), basta ir até a ala médica de sua nave para resetar seus atributos.

Infelizmente, essa maior liberdade é acompanhada por uma redução no nível de controle que você tem sobre as ações de seus companheiros de equipe. Só é possível mandá-los ir até alguma posição ou focar ataques em inimigos específicos, opção que torna muito mais difícil fazer as combinações de poderes vistas no passado.

essa maior liberdade é acompanhada por uma redução no nível de controle que você tem sobre as ações de seus companheiros

A BioWare também reduziu as possibilidades de personalização de seus companheiros. Você está limitado a determinar somente os poderes que cada um deles tem, sendo impossível realizar alterações em seus equipamentos ou investir em qualquer tipo de personalização.

No entanto, o que prejudica mesmo os combates são os bugs e os problemas com a inteligência artificial do jogo. Seu grupo não ajuda muito em batalhas e não é nada divertido lutar contra inimigos que de vez em quando desistem de atacar ou simplesmente ficam congelados enquanto você descarrega pentes de munição neles.

Multiplayer com gás renovado

Assim como Mass Effect 3, Andromeda tem um modo multiplayer cooperativo no qual você deve cumprir missões que, geralmente, envolvem matar diversas hordas de inimigos. Ainda mais caótica que no passado, a modalidade surge ligada diretamente à história principal, mas pode ser tratada como algo totalmente à parte e que não influencia muito na aventura.

Um elemento novo são as missões de Apex, que podem ser completadas de duas formas: ou você envia um grupo para lidar com elas ou parte para a ação por conta própria. No caso da primeira opção, é preciso esperar por algumas horas (em tempo real) antes de conferir o resultado final — algo que também pode ser feito por um aplicativo para smartphones.

Em geral, a forma mais rápida (e segura) de garantir bons resultados é assumir a responsabilidade por conta própria. Nesse caso, seu grupo pode ser formado tanto por “estranhos” quanto por amigos que também estejam jogando suas próprias aventuras.

O multiplayer é complementado pela possibilidade de escolher entre diversas classes de personagens e conferir conjuntos de cartas que rendem equipamentos, soldados diferentes e poderes temporários. A EA mantém a tradição de oferecer alguns “atalhos” para seu avanço na forma de microtransações um tanto caras, mas que podem ser ignoradas facilmente sem qualquer prejuízo à sua diversão.

Há mais a fazer do que batalhar

Enquanto não está lutando contra alienígenas (ou humanos), você tem a oportunidade de investigar diversos planetas e modificá-los de forma a torná-los viáveis para habitação. Isso geralmente envolve cumprir missões com objetivos que vão de matar um alvo determinado até investigar um local específico ou entregar determinado item — ou seja, aquilo que já é padrão no gênero.

O jogador também vai ter que instalar uma série de unidades de exploração avançadas e decifrar monumentos alienígenas com características misteriosas. Infelizmente, a interaçã com esses itens é pouco inspirada e, geralmente, envolve escanear alguns símbolos e usá-los para jogar partidas de um sudoku um tanto diferenciado.

você vai repetir as mesmas tarefas em praticamente qualquer lugar

Tudo isso não seria exatamente um problema não fosse o fato de que você vai repetir as mesmas tarefas em praticamente qualquer lugar. Seja um planeta com Sol ou com Gelo, sempre haverá um “elemento hostil” que limita sua exploração, bem como os mesmos tipos de ruínas e instalações estranhas ao cenário.

Andromeda sofre com o inchaço comum a jogos de mundo aberto, lembrando muito um “MMO single player” em determinados momentos. São tantas missões secundárias repetitivas e pontos de interesse no mapa que é fácil ficar sem saber o que deve ser priorizado em meio um ambiente tão repleto de pontos que exigem sua atenção.

Problemas e defeitos

Caso você esteja acompanhando essa análise, provavelmente já está ciente dos diversos defeitos técnicos que assolam Mass Effect: Andromeda. Em geral, o game está bastante bonito (principalmente no PC, plataforma em que jogamos), mas é inegável que ele está recheado de problemas.

Os modelos de personagens (especialmente os humanos) sofrem com animações mal feitas e um acabamento muito estranho. Na hora de falar com a maioria deles, é difícil não ficar com a sensação de que você está interagindo com bonecos de cera que foram possuídos por alguma espécie de espírito demoníaco.

O jogo também peca ao apresentar modelos que atravessam paredes, personagens que ficam piscando durante conversas e algumas animações que não funcionam da maneira esperada. O game não chega a ser o circo de horrores que alguns vídeos dão a entender, mas, quando surge um problema, é difícil fazer vista grossa e não ficar incomodado com sua ocorrência.

No entanto, não é somente nos gráficos que o jogo dá seus tropeços. A maioria das missões secundárias cai no antigo sistema de “levar e trazer itens” e a interface parece lutar constantemente contra o jogador — independentemente se você está usando um controle ou um mouse e teclado.

A organização das janelas torna complicado realizar processos supostamente simplesmente como comparar equipamentos e comprar novos itens, algo que os RPGs exploram desde suas origens. Para piorar tudo isso, você ainda tem que lidar com um limite muito restrito de itens que parece existir simplesmente para irritar aos jogadores.

Vale a pena?

Mass Effect: Andromeda é ainda mais difícil de avaliar do que Mass Effect 3. Se antes ao menos havia uma conexão sentimental com os personagens e o universo não tinha obrigações de se explicar completamente, Andromeda tem a desvantagem de ter que convencer o jogador a gostar de seus novos personagens, mecânicas e planetas.

De certa forma, o game me lembrou muito o primeiro capítulo da franquia com seus erros e acertos. Na tentativa de misturar ação, exploração de mundo aberto e RPG em um único pacote, a BioWare nem sempre é bem sucedida no que tenta oferecer ao público — no entanto, essa mistura muitas vezes desengonçada resulta em algo que, sem dúvida, merece o nome Mass Effect.

Mass Effect: Andromeda é ainda mais difícil de avaliar do que Mass Effect 3

Entre erros e acertos, o game oferece uma história que não é exatamente original, mas que vale a pena acompanhar até sua conclusão. O que brilha mesmo são os personagens e os relacionamentos que você estabelece com eles, algo que surge com nuances muito mais bem definidas e sutis do que no passado — isso sem tirar a possibilidade de flertar com praticamente qualquer raça e gênero de personagem.

Tendo como principal pecado problemas técnicos inexplicáveis para uma produção de seu tamanho, Andromeda é um jogo que sem dúvida justifica a divisão de opiniões que conseguiu provocar. A experiência é imperfeita e cheia de defeitos, mas, no fim do dia, ainda há elementos interessantes o suficiente para convencer você a ir em frente. No entanto, pode ser uma boa ideia esperar por alguns patches e atualizações antes de decidir entrar de cabeça nesse universo.

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