Grand Theft Auto V

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Por muito tempo tentei entender quais razões fazem com que Grand Theft Auto seja o enorme fenômeno que ele é. É difícil acreditar que somente a liberdade, a violência e a temática criminosa que a imprensa geral tanto gosta de demonizar sejam os responsáveis pelo sucesso da série. E, com GTA V, a Rockstar mostra que a verdade é um pouco mais complexa.

Na aguardada sequência, o estúdio mostra que o principal trunfo da franquia é expor tudo aquilo que há de mais podre na sociedade e apresentar isso de uma maneira tão satírica que nos prende do começo ao fim. O ciclo de sexo, drogas e violência é um convite para que o jogador mergulhe nesse submundo e se afeiçoe a ele, dando início a um estranho e distorcido círculo vicioso.

O segredo da série é tocar na ferida. Ela escancara os problemas que grandes cidades tentam esconder e faz piada dessas situações. Tráfico, corrupção e tortura não são exclusividades de Los Santos, mas algo recorrente em Los Angeles, Nova York, São Paulo, Rio de Janeiro e qualquer outra metrópole. A série é polêmica porque é incômoda — e por fazer isso muito bem, GTA V é genial.

Um em três

E, para escancarar essas mazelas, a Rockstar introduziu um elemento totalmente inédito na série — ou melhor, três. A existência de um trio de protagonistas é essencial para mostrar as diferentes facetas de Los Santos e o que há de errado em cada uma delas.

Enquanto Michael vive o glamour distorcido de Vinewood — e conhece todas as loucuras que as pessoas fazem para manter a fama e permanecer no topo da escala social —, Franklin apresenta a marginalização dos guetos e das guerras de gangues que dominam essas áreas “esquecidas”.

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Mas é em Trevor que esse retrato é melhor representado. O produtor de metanfetamina é instável e extremamente violento, mostrando o que acontece quando alguém é engolido e corrompido por todo o chorume dos grandes centros. Mais irônico ainda é vermos que esse psicopata é também o mais interessante do trio.

É claro que isso também influencia a trama. A história avança a partir da óptica dos três e é possível saber muito bem como eles lidam com os problemas propostos. É uma equipe bem diferente, mas que funciona muito bem.

No entanto, a importância de termos três personagens não é meramente narrativa, pois isso também acrescenta muito em termos de jogabilidade. Cada um deles possui características e habilidades próprias, o que faz com que controlá-los seja uma experiência diferenciada. Franklin é um motorista muito mais habilidoso que os demais, mas Michael compensa isso ao mostrar que a experiência o fez um excelente atirador.

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Isso tudo se torna mais interessante graças à possibilidade de alternar o personagem a qualquer momento. Com um único botão, você deixa de acompanhar a vida de um protagonista e cruza o cruza Los Santos para descobrir o que um de seus aliados está fazendo naquele momento. A vida segue para todos, e isso torna GTA V ainda mais rico.

Além de oferecer um dinamismo incrível, essa mudança de perspectiva também se revela um recurso que funciona muito bem dentro das missões. Em determinado ponto da trama, por exemplo, Trevor precisa levar sua equipe em um helicóptero e Michael deve invadir um prédio e acabar com todos que tentarem se aproximar dele. Enquanto isso, Franklin permanece à distância mantendo todos seguros com um rifle — e você deve controlar cada um deles para que tudo corra bem.

Essa tal liberdade

Quando a Rockstar anunciou GTA V, o que mais impressionou os jogadores era a promessa de termos um mapa maior que os de GTA IV, San Andreas e Red Dead Redemption combinados. Muitos duvidaram, outros se empolgaram com a novidade e, no final das contas, o estúdio conseguiu superar todas as expectativas.

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A nova Los Santos é realmente gigantesca, se transformando em um enorme playground para você aproveitar a liberdade que a série tanto valoriza. E, mesmo com toda essa imensidão, é incrível perceber como tudo é familiar, principalmente para quem passou horas explorando cada centímetro quadrado do mapa de San Andreas.

Outro ponto é que não se trata de um mundo vazio. Ele é enorme e repleto de possibilidades e coisas para fazer, ver e procurar. Há missões espalhadas por todos os cantos, mas você pode gastar seu tempo visitando lojas, customizando seus personagens e veículos ou realizando pequenas atividades do cotidiano. Que tal relaxar de seu último assalto a banco com uma sessão de ioga ou com uma partida de golfe?

O curioso é que esses elementos, apesar de totalmente irrelevantes para a trama, se encaixam muito bem no universo apresentado. Mais do que isso, eles chamam a atenção por conta de suas mecânicas completas e que não deixam nada a desejar a jogos dedicados a esses esportes, como é o caso do tênis.

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O acúmulo dessas pequenas coisas é o que torna GTA V tão grandioso. Como mencionado, a liberdade é uma das características da franquia, e o novo jogo explora isso muito bem, trazendo uma infinidade de atividades espalhadas pelo cenário. É possível deixar a campanha de lado e se dedicar apenas a aproveitar todos esses passatempos sem sentir que você está deixando de aproveitar algo: a diversão é igual.

É claro que as missões contribuem muito também para essa variedade. Tanto as principais quanto as secundárias são muito criativas e exploram muito bem os elementos inéditos inseridos no game, além de apresentar personagens interessantes e igualmente carismáticos. E, como se não fosse o suficiente, ainda há um sem número de eventos aleatórios que acontecem no meio do caminho para mostrar que, acima de tudo, Los Santos é viva.

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Só que não estaríamos falando de Grand Theft Auto se não tivéssemos elementos que satirizam a nossa realidade. É por baixo desses passatempos e do humor em torno deles que está a verdadeira riqueza de GTA V. Tanto o discurso do CEO do LifeInvader que mostra a invasão de privacidade pelas redes sociais como algo adorado pelo público quanto o culto à imagem e à fama a qual a elite de Vinewood se submete dentro do game dizem muito sobre a nossa sociedade fora dele.

Quebrando a banca

Já falei que um dos aspectos mais divertidos do novo GTA são as diferentes missões que você encontra pelo caminho. E, apesar de termos uma variedade bem grande de objetivos, nenhum deles se compara aos grandes assaltos organizados pelos protagonistas.

Apesar de roubos serem algo bem comum na série, esses assaltos em específico se destacam pelo desafio. Não se trata apenas de invadir o lugar e atirar para todos os lados. Tudo precisa ser cuidadosamente pensado e analisado para otimizar esforços e, principalmente, os lucros.

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Essas missões são divididas em várias etapas. A primeira é a de reconhecimento, em que você deve se infiltrar no local desejado e coletar informações úteis, fotografando rotas de acesso e registrando qualquer coisa que possa se transformar em problema. Em seguida, o grupo decide como atuar para, então, contratar os ladrões que vão ajudá-lo.

Esse apoio extra é muito importante e vai definir o rumo da operação. Profissionais de qualidade exigem uma porcentagem maior dos ganhos, mas realizam suas funções com bastante competência. Já os serviços mais baratos podem render um lucro maior, mas espere para ver seu piloto de fuga se perder pelo caminho ou a hacker falhar na hora de quebrar o sistema de alarme do local.

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Além disso, é nos assaltos que as habilidades únicas de cada um dos personagens principais se destacam. O controle de Michael no volante faz com que a fuga deixe de ser um problema e Trevor pode segurar o avanço policial graças à sua resistência sobre-humana. Conhecer essas características e saber usá-las é fundamental.

Melhorando o que já era bom

Além de todas as novidades, GTA V trouxe tudo aquilo que já era icônico dentro da série e ainda apresentou melhorias em muitos desses elementos. É o caso do sistema de direção, que foi consideravelmente aprimorado em relação ao jogo anterior.

Controlar um veículo deixa de ser uma dor de cabeça, uma vez que você passa a ter muito mais segurança nos movimentos. Independente do modelo ou da velocidade em questão, o domínio do automóvel está garantido. É claro que as diferenças de acordo com o tipo de carro ainda estão presentes, mas não é nada problemático.

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Sem falar que eles não são mais descartáveis. A Rockstar se preocupou em deixá-los bem mais resistentes e, apesar de esse sistema de dano ser bem bizarro e pouco realista, ele faz sentido, uma vez que isso impede que você tenha de parar a cada minuto para fugir de uma iminente explosão. É um erro que vem para o bem.

E, graças a esse aumento na resistência, o estúdio pôde trazer uma das funções mais pedidas pelos fãs: o tuning. É possível modificar seu carro em diferentes níveis, seja em termos visuais quanto no próprio desempenho, o que certamente vai entreter muita gente por longos períodos de tempo.

Por fim, temos um visual realmente incrível, principalmente se lembrarmos que estamos diante de um jogo de mundo aberto e repleto de elementos como GTA V. O nível de detalhes é imenso, a iluminação é de cair o queixo e é praticamente impossível não se encantar com o resultado obtido pela produtora.

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Prova disso é que você praticamente não percebe a transição entre uma cena de corte e os momentos de jogo. Tudo é tão natural que, em muitos momentos, o personagem permanece parado à espera de uma ação enquanto você aguarda a cutscene supostamente acabar.

Mas o que mais impressiona são as cores. Ao contrário da acinzentada Liberty City, Los Santos é muito mais colorida e viva, o que dá uma personalidade própria à cidade. Mais do que isso, esses diferentes tons ainda ajudam a contextualizar o jogador sobre as diferentes áreas existentes. Vinewood é nitidamente mais clara e “alegre” que os becos escuros de South Los Santos ou que o amarelado desértico de Sandy Shores. São detalhes visuais que dizem muito sobre aquela realidade.

Falhas compreensíveis

Devido à sua dimensão, jogos de mundo aberto sofrem com o eterno dilema entre desempenho e possibilidades. E, apesar de GTA V conseguir, de certa forma, conciliar esses dois elementos de maneira surpreendente, ainda é possível encontrar algumas falhas.

A maioria delas são exatamente na parte visual, principalmente com pop-ins. Ainda é comum vermos texturas sendo carregadas tardiamente, objetos surgindo do nada — o que é terrível, pois isso realmente atrapalha, sobretudo durante perseguições — e sombras se comportando de maneira ilógica.

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No entanto, o que chama a atenção é que esses problemas são bem pontuais se levarmos em consideração o tamanho geral do jogo. GTA V é tão grande e cheio de elementos que impressiona o fato de esses deslizes não serem mais recorrentes e críticos. Até mesmo os slowdowns são pouco frequentes, mostrando que o estúdio fez um ótimo trabalho na hora de extrair o máximo da atual geração.

Já em termos de jogabilidade, o maior problema fica na hora de atirar enquanto você está dirigindo. Algumas missões exigem que você faça isso, mas é simplesmente impossível mirar com precisão sem desperdiçar uma dezena de balas devido à dificuldade de gerenciar câmera e direção ao mesmo tempo.

VALE A PENA?

A expectativa foi enorme, mas a Rockstar conseguiu não apenas entregar aquilo que os fãs esperavam como foi além. GTA V é tão incrível quanto divertido e é praticamente impossível não mergulhar de cabeça nesse mundo caótico e deturpado que há tempos esperávamos para revistar.

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Mais do que isso, o estúdio chega ao que parece ser o limite da atual geração e nos faz pensar que, mesmo com o grande número de lançamentos para o resto deste ano, será difícil para eles serem tão grandiosos e variados quanto este. A Rockstar conseguiu jogar o nível de qualidade muito para o alto — o que pode ser um desafio inclusive para ela em um futuro breve.

GTA V está longe de ser um jogo perfeito, mas ele compensa suas falhas com maestria e faz com que qualquer problema seja esquecido diante de todo o resto. Falhas vão existir, mas, assim como a essência da série, o segredo está em saber como apresentar o erro e, acima de tudo, em saber rir disso. É escancarar o errado.

Este jogo foi adquirido pelo Baixaki Jogos para a realização desta análise.

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